É chuva do lado de lá,
é fome do lado de cá.
É mata que vejo cair,
é terra que vejo secar.
É geleira derretendo,
são ursos quase morrendo.
São milhões andando a pé
e alguns poucos de Jaguar.
Muitos sentem e não falam,
outros pressentem e se calam.
Do lado de lá tem um rio,
do lado de cá, nem um pio.
Do lado de lá tem fartura,
do lado de cá, só loucura.
O sertão me deu a vida,
a fome me fez ferida,
só me restou a despedida.
Cá longe fiquei esperto,
de olho sempre aberto,
só sinto não te ter perto.
Quero ver tudo de frente,
vou me tornar diferente,
quero me transformar em semente
e ser plantado,
e bem adubado,
e ser exemplo para minha gente.