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O OUTRO LADO DO RIO (dez/2021)

É chuva do lado de lá,

é fome do lado de cá.

É mata que vejo cair,

é terra que vejo secar.

É geleira derretendo,

são ursos quase morrendo.

São milhões andando a pé

e alguns poucos de Jaguar.

Muitos sentem e não falam,

outros pressentem e se calam.

Do lado de lá tem um rio,

do lado de cá, nem um pio.

Do lado de lá tem fartura,

do lado de cá, só loucura.

O sertão me deu a vida,

a fome me fez ferida,

só me restou a despedida.

Cá longe fiquei esperto,

de olho sempre aberto,

só sinto não te ter perto.

Quero ver tudo de frente,

vou me tornar diferente,

quero me transformar em semente

e ser plantado,

e bem adubado,

e ser exemplo para minha gente.

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